quinta-feira, 3 de maio de 2007

“Durante seis dias, foi sempre a andar…”

Navegávamos há dois ou três dias e finalmente pudemos vir para o convés do Uige. Não me lembrava de muitas coisas. Lembrava-me de ter entrado no navio, no Cais de Alcântara e pouco mais. Nem admira…naquele dia, de 29 para 30 de Janeiro de 1970, os vapores do éter, oriundos de várias garrafas de brandy (o whisky na altura era inatingível…) atingiram quase todos os elementos da C.Caç.2659, a ponto de terem ficado para trás algumas confusões, lá na caserna do Quartel em Santa Margarida.
Até a Madeira já tinha ficado para trás, depois de uma curta visita às caves do vinho, que veio acentuar, ainda mais, o efeito entorpecido que alguns de nós já trazia…

Porém, ainda havia mais alguns dias em alto mar, antes de chegar à Guiné.

E, esses dias não foram nada fáceis de passar, pese embora o facto de alguns de nós já se estarem a habituar ao vogar das ondas.
E, finalmente, avistamos terra. Terra quente, húmida, com cheiro a putrefacção, oriundo, provavelmente de alguma coisa que, lá nos confins do mato, apodrecia.
Acostamos, finalmente e logo uma multidão de pequenos barquitos, tripulados por miudos que apareciam de todos os lados, se afadigavam a oferecer-nos (a troco de patacão, é evidente) as mais variadas espécies de frutas, frutas para nós completamente desconhecidas, mas que por aí adiante seriam presença, quase constante, à nossa mesa.
Desembarcamos do Uige, completamente encharcados em suor e logo entramos em Berliets que nos transportaram a Brá, onde ficamos alguns dias, em tendas fétidas e incómodas, no meio de um lamaçal imundo, até que nos meteram numa LDG, a caminho do Cacheu.

1 comentário:

Mário Rui disse...

Júlio
Como sempre as tuas "coisas" são deliciosas, trazem-nos à memória sentidos deligados do tempo, mas ligados por sentimentos muito profundos, que mesmo que queiramos esquecer, eles lembram que se lembram de nós.
Abraços apertados
Mário Rui